Para avaliarmos o impacto de Lancaster no Brasil, optamos por analisar o impacto das idéias de sua obra de maior expressão: Avaliação de Serviços de Bibliotecas. Através do site “Google Acadêmico” captamos oito artigos que utilizaram as idéias de Lancaster em sua construção. Ao optarmos por tais artigos nos preocupamos em buscar trabalhos que procuraram auxiliar ou melhorar serviços de informação.

Em seu artigo “Critérios para seleção de documentos eletrônicos na internet” de Simone da Rocha Weitzel,
Resumo: O advento da Internet trouxe vários desafios para o bibliotecário moderno. Dentre eles, a administração de coleções se tornou uma tarefa complexa diante da grande e variada oferta de formatos, especialmente em relação a natureza do documento eletrônico. No presente artigo são analisados oito critérios de seleção que agilizam o processo de tomada de decisão título-a-título e orientam o bibliotecário na elaboração de políticas específicas.

a autora utiliza Lancaster para fundamentar a sua discussão sobre a importância das definições de critérios para seleção de recursos informacionais com o intuito, segundo Weitzel, “de filtragem das informações para fins específicos”.

No trabalho “O desenvolvimento de coleções e a organização do conhecimento: suas origens e desafios” da mesma autora,
Resumo: Analisa dois momentos marcantes na área de desenvolvimento de coleções responsáveis por sua origem e retomada nos últimos cinco anos: a explosão bibliográfica e o advento da Internet, respectivamente, bem como sua importância para a organização do conhecimento.
Weitzel (2002) aborda o desenvolvimento de coleções, tendo em vista a explosão informacional da atualidade e a incapacidade do ser humano em manter-se atualizado, a autora utiliza novamente o modelo das atividades de bibliotecas de Lancaster (1996, p.2) para enfocar, desta vez, o outro eixo do diagrama: a comunidade de usuários.

Lancaster (1996) afirma que a razão de ser de uma biblioteca é “processar insumos para gerar produtos”. O termo biblioteca pode ser empregado como unidade de informação. Os insumos, para o autor, são divididos em insumos primários, recursos financeiros, e insumos secundários, os recursos informacionais. Os produtos são os serviços de bibliotecas oferecidos para a comunidade de usuários da unidade. Lancaster (1996) ainda observa que a biblioteca é uma “interface entre os recursos informacionais disponíveis e a comunidade a ser servida”.

Weitzel, em seus artigos, reflete sobre os principais eixos do novo modelo de biblioteca esquematizado por Lancaster. Nesse modelo a biblioteca passa a ser um ente prestador de serviços, ou seja, um ente que procura satisfazer as necessidades de informação de um determinado grupo de usuários.

A biblioteca, portanto, deixa de se preocupar em preservar e armazenar o conhecimento, e enfatiza seus esforços em dar acesso às informações demandadas pela comunidade a qual ela se destina.

Nos artigos “Formação e desenvolvimento de coleções em bibliotecas especializadas” de Ana Cláudia Carvalho de Miranda,
Resumo: Apresenta uma proposta de formação e desenvolvimento das coleções para bibliotecas especializadas, servindo de base para o planejamento das diretrizes e facilitando o crescimento racional e equilibrado do acervo. Propõe critérios de qualidade para os processos de seleção, aquisição e avaliação das informações. Destaca a velocidade com que a informação é renovada e o correspondente reflexo desse fato na atualização dos acervos. Conclui, sugerindo a elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções que funcionará como parâmetro para auxiliar o bibliotecário na tomada de decisões, tanto em relação ao processo de seleção e aquisição do material a ser incorporado ao acervo, como na manutenção da qualidade e atualização das coleções.

e “A qualidade enquanto instrumento na política de desenvolvimento de coleções jurídicas” da mesma autora,

Resumo: Este artigo objetiva tratar o desenvolvimento das coleções no âmbito da informação jurídica, propondo critérios de qualidade para os processos de seleção, aquisição e avaliação das informações. A qualidade é uma estratégia utilizada na melhoria dos produtos e serviços, buscando alcançar a satisfação dos clientes. A velocidade com que a informação jurídica se renova torna a literatura ainda que recente, ultrapassada e obsoleta, ocasionando, assim, uma maior dificuldade das bibliotecas manterem suas publicações sempre atualizadas. Para tanto, é necessário que sejam criados mecanismos de controle, e que seja efetuado um bom desenvolvimento dos serviços oferecidos pelas mesmas. Estes mecanismos são elaborados através da política de desenvolvimento de coleções, pois, quando bem planejada, funciona como diretriz para auxiliar o bibliotecário na tomada de decisões, tanto em relação ao processo de seleção e aquisição do material a ser incorporado ao acervo, como na manutenção da qualidade e atualização da coleção.

em tópico sobre avaliação da coleção, Miranda (2003;2007) cita o método de avaliação qualitativa do acervo (julgamento por especialistas e análise do uso real) que, segundo Lancaster (1996, p.20) “pode ser feita com o objetivo de melhorar as políticas de desenvolvimento de coleções, melhorar as políticas relacionadas com períodos de empréstimo e taxas de duplicação, ou embasar decisões relacionadas com o uso do espaço”, que discute o problema levantado por Lancaster (1996, p.28) sobre o exame de especialistas em determinado assunto como método avaliativo de acervo. Lancaster (1996, p.28) adverte que “o especialista num assunto pode conhecer muito bem a literatura, mas não estar familiarizado com a comunidade a que a biblioteca deve servir”.

Tais ponderações levam a reflexão de que tipo e tamanho de coleção a unidade de informação deve possuir e da implicação de recursos informacionais na qualidade do serviço a ser prestado aos usuários.

CASSIM em “Disponibilidade de bibliografia básica: o caso de estudo do curso de graduação em engenharia de produção mecânica da EESC-USP”

Resumo: Avaliação da cobertura da bibliografia básica utilizada no curso de graduação em Engenharia de Produção Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos-USP. Abrange a caracterização da coleção e sua disponibilidade no Serviço de Biblioteca, mediante análise das ementas das disciplinas e busca na Base de Dados Bibliográficos da USP – DEDALUS, em âmbito local e global. A bibliografia indicada é constituída basicamente de livros em língua portuguesa, publicados entre as décadas de 70 e 80. No acervo local estão disponíveis 66 % dos itens e no Sistema Integrado de Bibliotecas mais de 85 %, o que indica que a cobertura pode ser considerada satisfatória. A metodologia adotada pode ser aplicada aos outros cursos de graduação e programas de pós-graduação da EESC e demais instituições de ensino. Estudos desta natureza contribuem para o planejamento de uma política de desenvolvimento da coleção mais adequada às necessidades do ensino e pesquisa.

salienta que a avaliação do acervo possibilita manter a coleção atualizada e equilibrada de acordo com as necessidades dos usuários. Lancaster (1996) observa que “a avaliação do acervo não pode ser feita de forma isolada, mas somente em função de sua utilidade para os usuários da biblioteca...”.

Esses artigos, além de enfatizarem a importância dos recursos informacionais nos serviços prestados pelas unidades de informação em satisfazer as necessidades da comunidade de usuários, refletem, sobretudo, a necessidade de avaliação como diagnóstico das dificuldades da biblioteca.

REBELLO (2004) no artigo “Avaliação da qualidade dos produtos/serviços de informação: uma experiência da biblioteca do hospital universitário da Universidade de São Paulo”.

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar os resultados obtidos de uma pesquisa de satisfação da qualidade dos serviços oferecidos pelo Serviço de Biblioteca e Documentação Científica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (SBDC-HU/USP), utilizando a escala SERVQUAL para mensuração da qualidade percebida pelos usuários. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa: questionários e entrevista. A partir da análise dos dados tabulados, a biblioteca obteve informações para tomar medidas, a fim de melhorar a qualidade dos produtos oferecidos e dos serviços prestados. Descreve também a metodologia de implantação do Programa de Avaliação da Qualidade dos Produtos e Serviços do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (PAQ-SIBi/USP), sistema do qual é parte integrante.

discute a necessidade cada vez maior, na atualidade, da biblioteca prestar serviços de informação de qualidade. A avaliação para Lancaster (1996, p.15) “é um elemento essencial de administração bem sucedida de qualquer empreendimento”. Tem como finalidades, segundo o autor: mostrar nível de desempenho, comparar o desempenho de várias bibliotecas ou serviços, justificar a existência de um serviço de informação e identificar as possíveis causas de malogro ou ineficiência do serviço. E, sobretudo, como intuito principal da avaliação em bibliotecas, proporcionar elementos para a melhoria dos serviços. Segundo Lancaster (1996, p.8) “a avaliação de um serviço de informação será um exercício estéril se não for conduzida com o objetivo específico de identificar meios de melhorar seu desempenho”.

No trabalho “Impacto dos periódicos eletrônicos em bibliotecas universitárias”,

Resumo: Analisa as mudanças ocorridas com o surgimento dos periódicos eletrônicos, suas vantagens e desvantagens, do ponto de vista de todos os envolvidos em sua produção e uso: autores, editores, bibliotecários e usuários. Discute os impactos causados nos serviços de biblioteca, tais como seleção, aquisição, catalogação, participação em consórcios, o que exige nova postura por parte de profissionais e usuários da informação.

Cruz aborda a idéia na qual Lancaster (1996) analisa o custo de um serviço de informação não é apenas monetário, mas o tempo que o usuário gasta para utilizar o serviço deve, também, ser mensurado. Esse custo deve ser levado em conta ao analisar a qualidade do serviço.

A biblioteca, como já referido, é considerada, segundo Lancaster (1996) uma mediadora entre os recursos informacionais e os usuários e tem como objetivo principal gerar produtos (serviços) para a comunidade usuária. Cruz , em seu trabalho, observa que as unidades de informação devem proporcionar o acesso fácil e rápido da informação aos usuários, pois estes, tendem ao “princípio do menor esforço”. Segundo a autora, “as bibliotecas têm apoiado esta filosofia” e utilizado a tecnologia como aliada (por exemplo catálogos on-line).

No artigo “Compartilhar é a solução!”,

Resumo: Este trabalho apresenta uma ferramenta desenvolvida com a tecnologia da informação WXIS, com o objetivo de tornar a gestão do serviço de empréstimo entre bibliotecas mais dinâmica e personalizada às características de seus usuários e gestores (seja, biblioteca solicitante ou biblioteca solicitada). A ferramenta foi desenvolvida especificamente para atender às necessidades da Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos (BCo/UFSCar),
tais como: gestão de pedidos; gestão de usuários; gestão de bibliotecas conveniadas; emissão de relatórios; rastreabilidade do material e acesso on-line. Esta ferramenta poderá ser aplicada em qualquer organização interessada em construir uma rede para o compartilhamento de material bibliográfico. O desenvolvimento e a implementação da ferramenta exigiram pouco investimento e a avaliação inicial sobre o seu uso é de que é uma solução prática e adequada às necessidades da organização.

Silva afirma que o advento tecnológico tem propiciado o compartilhamento de acervos. Segundo a autora “o compartilhamento de acervos é uma iniciativa que, além de solucionar problemas do cotidiano bibliotecário, otimiza a biblioteca como prestadora de serviços aos usuários”. Lancaster (1996, p.263) afirma que “as bibliotecas compartilham recursos a fim de melhorar seu custo-eficácia”, segundo Lancaster (1996), a relação custo-eficácia são os custos de um determinado serviço em relação à proporção da satisfação das demandas dos usuários. “Uma biblioteca talvez consiga, com seus próprios recursos, satisfazer entre 80 e 90% das necessidades dos usuários. Mas não terá como passar muito além desse ponto de maneira econômica”. (LANCASTER, 1996, p.263) Portanto, a decisão de adquirir ou não um item é influenciada pelo custo. Silva afirma que “graças às tecnologias da informação (como internet e base de dados em linha), as bibliotecas estão preferindo o acesso ao documento em detrimento à sua posse”. E ainda, em seu trabalho, Silva descreve as vantagens do compartilhamento de acervos: assegurar a continuidade das assinaturas dos periódicos, através da divisão da aquisição dos documentos; possibilitar uma maior racionalização do uso das verbas para aquisição; aumento do custo-benefício das aquisições; compartilhamento da tarefa de filtrar a informação; aumento do universo de publicações disponíveis aos usuários, entre outras. Lancaster (1996) afirma que as novidades tecnológicas como o crescimento da editoração eletrônica e o desenvolvimento das redes de telecomunicações favorecem o compartilhamento de acervos. No entanto, Lancaster (1996, p.265) adverte que as ferramentas para o compartilhamento de acervo devem ser avaliadas segundo a relação custo-eficácia, ou seja, os custos e a satisfação do usuário dessa atividade devem ser avaliados em função da “extensão com que aumentam a qualidade do serviço da biblioteca ou reduzem os custos do fornecimento de um serviço eficaz”.
As idéias de Lancaster contribuíram para disseminar essa nova visão de biblioteca como prestadora de serviços, como mediadora entre a informação e o usuário. A função de preservar e armazenar os documentos não são mais o objetivo principal da biblioteca. Os esforços do profissional da informação estão concentrados em fornecer o acesso à informação. Lancaster enfatiza a importância da qualidade dos produtos em bibliotecas, da necessidade de constante avaliação para diagnosticar possíveis falhas e as reais demandas dos usuários, o impacto da tecnologia nos serviços bibliotecários e de informação e a necessidade de aliar todos esses aspectos aos recursos informacionais. Portanto, o impacto dessa obra no Brasil relaciona-se as idéias de: avaliação, eficácia e a relação custo-eficácia, desenvolvidas por Lancaster.